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KALUNGA

O POETA
No início dos anos 2.000, depois de uma passagem frustrada pela História da UFSC, larguei a faculdade e trabalhava como auxiliar administrativo numa Fundação. Apesar de momentaneamente abrir mão do diploma, alimentava o sonho de escrever um livro de contos, narrando “causos” sobre o cotidiano do Ribeirão, estórias que ouvia desde pequeno. Como me faltava coragem – e competência – para executar uma empreitada dessa magnitude, me consolava rabiscando pequenos poemas e pensamentos. Certo dia, diante do estímulo e da insistência de alguns amigos, resolvi participar de um concurso de poesias, cujo tema era “o amor”. Percebi então a timidez como obstáculo, e a dificuldade que tinha em expressar e expor meus sentimentos para uma “musa”. Acreditei ter encontrado a resposta para o problema tentando traduzir toda a paixão que sentia pela terra onde nasci e cresci, tema recorrente para qualquer poeta. Aparentemente não foi uma boa solução, pelo simples fato de não ter sido sequer selecionado entre os 20 ou 30 que fariam parte da publicação de uma antologia. A decepção fez com que atirasse meus papéis numa gaveta e retornasse ao limbo, e a vergonha me impedia de mostrar qualquer linha que tivesse escrito para alguém. Mas justamente quando me convencia que não era capaz de escrever nada digno de registro, descobri num velho conhecido um novo amigo, e grande incentivador.
Por essa época, não me recordo como, o Regi teve acesso a uma poesia minha. Mesmo sendo meu primo, posso afirmar que até aquele momento ele era tão somente um “parente distante”. Porém, filho de músico e amante dela, não poderia jamais deixar de me deslumbrar com a beleza do som de um violão e acompanhava muitas das apresentações dele em bares e festas na comunidade. Ele, também “manezinho”, compartilhava o interesse pelo resgate da herança cultural da Ilha que eu buscava retratar nas letras, motivos pelos quais estreitamos nossa amizade. E, se por um lado, hoje me foge à memória os passos iniciais da parceria Regi/Kalunga, me lembro perfeitamente da sensação indescritível que senti quando o ouvi, pela primeira vez, dedilhar a melodia e cantar os versos de Amor Eterno, coincidentemente, a composição primogênita. A palavra transcendendo a esfera do papel e do alfabeto, se transformando em música... dá um misto de orgulho e receio, vaidade e insegurança, esperança e angústia. É um estado de espírito único, surreal. E que vicia. A partir dessa experiência – onde percebemos que todo sopro de inspiração é um motor que nos impulsiona na realização dos nossos objetivos – surgiu naturalmente a vontade de desenvolver um trabalho dedicado ao nosso folclore. Desde então, quase 10 anos se passaram e o projeto Tributo ao Ribeirão da Ilha, apesar de tantos contratempos, finalmente está em processo de conclusão. “Entre luas e marés”, resultado desse esforço, reflete o nosso olhar sobre a gente e as maravilhas desse recanto idílico. Espero que aqueles que já conhecem o Ribeirão consigam identificar personagens e paisagens, ou talvez reencontrar lembranças quase perdidas. Para quem ainda não teve o prazer de conhecer, fica o convite para uma viagem sonora pelas antigas ruas da freguesia...

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